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  • Ori Boteco

Caetano??? Presente em nossos corações

06 de maio de 2023
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Em abril, perdemos um grande amigo, e põe amigo nisso. Afinal de contas, este patudo trabalhou com a equipe por 10 anos. Ninguém conhecia melhor as pessoas do que ele, assim como os nossos pacientes.

Partir faz parte da vida e não há como mudar isto. Quando a vida começa sabemos que teremos fases boas e ruins e nosso destino dependerá das escolhas e atitudes que adotarmos. Mas no fim iremos partir e nos libertar.

É como comprar uma passagem, que somente é vendida com ida e volta. Há anos vejo e convivo com pacientes que estão fazendo a passagem. Para mim, ninguém parte, todos permanecem. Sim só partimos quando somos esquecidos. Vivemos na memória de quem tanto nos amou, imprimimos a sua imagem em nossa retina.

O meu, o nosso amigo, é um canino de nome Caetano, para muitos será apenas um nome, para outros será uma doce lembrança de um ser iluminado e bondoso.

Lembro-me de dizer isso para minha mãe, logo após ser anunciada a morte de meu pai. Ele continua a viver nas memórias, nas conversas que, mesmo ausente, mantemos diariamente, sabendo das respostas aos nossos questionamentos, pois as escutamos por mais de 50 anos. Elas estão gravadas, com muito carinho, em nossas lembranças.

O humano necessita tocar, ver, abraçar, apertar, cheirar, da presença física de tudo que possui, inclusive da outra vida. A diferença entre estar vivo fisicamente e em nossas memorias, é um piscar de olhos. Enquanto escrevo isso, ao som de Janis Joplin, minha memória está lembrando da figura do meu pai e com isso do seu legado, pensamentos e atitudes. Por um breve instante ela está viva, pelo menos para mim.

 Temos que aprender e permitir a partida de quem tanto amamos. Uma das decisões mais difíceis da vida é quando deixá-los ir.

O meu, o nosso amigo é um canino de nome Caetano, para muitos será apenas um nome, para outros será uma doce lembrança de um ser iluminado e bondoso. Deixamos ele partir e seguir o seu caminho, pois animais não são capazes de tirar a sua própria vida. Que dignidade viver com todos os obstáculos da vida, com toda dor imposta a eles, sem pensar em desistir.

O que para muitos é uma opção para eles não é nem pensável. Lutar, lutar, lutar contra toda adversidades para no fim chegar ao seu ponto de partida. Ele lutou e foi bravo em cada etapa da sua jornada, nunca desistiu. Partir é a libertação de todos os males que geramos e conquistamos na nossa jornada, pois o mundo não nos impõe a maldade, nós a criamos e no fim nos libertamos dela, ou não.

Partir sem bagagem, sem roupas, sem dinheiro, sem nada que nós humanos tanto precisamos. Ele viveu na sua própria existência, justificou a sua vida. Acalmou e confortou com seu olhar e sua bondade. Viveu na pobreza humana e partiu na riqueza de sentimentos, lagrimas e cercado pelos amores de sua vida.

Enfim partir, subir no trem da vida, é como viver na imensidão de nossas memórias, fixado em nossas retinas e refugiado em nossos corações. Enquanto nos lembrarmos dele, ele vai estar vivo, e não precisou de bens para ganhar esta vaga. Ele foi o senhor de seu destino.

Ewerton Cardoso

Médico Veterinário, professor da UNIBAVE (Universidade Barriga Verde) e do Instituto Vet.

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